Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
Ternura, David Mourão Ferreira (1927-1996)
Jardins do Palácio de Cristal - Porto
Fotografias de João Manuel Tavares Martins
Aqui ainda éramos bebés . Agora já somos crescidas!..
Foto tirada no dia 28-08-2002. A Joana tinha 4 meses (menos um dia).
A Joana com o chapéu, em Melres , no dia daquela famosa foto cortada.
A prima que lhe cortou a cabeça anda a monte.
Teve que ser o pai a mostrar-nos a Joaninha, bonita como ela é
Olá!...No casamento do Luís e da Gui é que vai ser!...
Foto tirada no casamento da Celsa e João
Fotos : Christophe
Comentários: Christophe e Guri Guri
Chegaram a casa com a rapidez de um raio e narraram o acontecimento, suplicando aos presentes que se juntassem às suas preces para esconjurar o maligno.
Só no dia seguinte, o patrão, homem temente a Deus mas capaz de racionalizar as coisas do mundo, convocou os jornaleiros.
Ora resolvam este quebra cabeças
Instruções:
Tudo começou por ser um breve comentário à crónica “Desafio de vida”, mas acabou por desaguar nesta carta aberta, amálgama de ideias e sentimentos.
Obrigado, Luís, pelo seu testemunho. Sobretudo pela transparência e convicção das suas palavras.Se o seu testemunho fosse de sentido contrário, de igual modo eu lhe diria obrigado. Em que ficamos, então?!
Casais divorciados ou famílias unidas?!
Crentes, agnósticos ou ateus?!
É irrelevante.
Deus - que nunca ninguém viu (1) – não se vai importar com o número de casais divorciados ou de outras tantas famílias unidas, mas vai com certeza deixar cair uma lágrima pela incapacidade de uns e outros se amarem.
Crentes, agnósticos ou ateus - prisioneiros da nossa condição humana - Deus não vai querer saber dos nossos rituais ou lutas para nada, mas sim da convicção com que assumimos o nosso próprio caminho.
E daí o respeito e a admiração pelo seu testemunho.
Gostava ainda de lhe dizer, à laia de desabafo, que cada vez mais tenho a impressão de ir descobrindo Deus onde exactamente Ele não está. Ora aí está uma boa definição daquilo que eu sou. Desatinado. Mas, em todas as famílias há os certos, os certinhos e os desatinados...
Mudando de partitura. Apreciei a simplicidade com que descreve a descoberta de que um instrumento, aparentemente arredio dos rituais litúrgicos – o que não é verdade – nos pode afinal conduzir a momentos de grande interioridade.
Mais uma vez as coisas estão onde parecem não estar. Os compositores, sobretudo os do período barroco sabiam-no bem, para já não falar do seu uso nas cerimónias bíblicas no Templo de Jerusalém, ao lado do shofar .
Para que não me acusem de falsa erudição sobre assuntos bíblicos que não domino, da existência do shofar sabia eu há muito tempo. Já, quanto à utilização do trompete nessa época, talvez eu não esteja “a mentir bem”.
Sem a aventura em que o João e a Celsa se meteram, eu não estaria para aqui a perorar. Para eles o meu abraço com o desejo que o seu amor “não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, como dizia Vinicio de Morais. E que dure sempre, acrescento eu.
Tio Mário
(1) Porque não quero afrontar gratuitamente a fé de ninguém, junto sustentação para este aparte:
· Se alguém diz: eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu. (I João 4:20)
· Com efeito, ninguém jamais viu a Deus tal como Ele é em Si mesmo (Carta Encíclica Deus Caritas Est do Sumo Pontífice Bento XVI, parte 17)
Luis Baldaque Silva
É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!
Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!
Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...
Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...
Primavera
Florbela Espanca (1894-1930)
Parque da Cidade do Porto
Fotografias de João Manuel Tavares Martins
Fiquei aliviado.
Reconheço que pela lógica das coisas o cronista até tinha razão. Para quem ao longo da vida nunca deu provas de merecer o céu, o inferno - descrito por mão de mestre - seria o seu destino natural.
Mas Deus sempre troca as voltas - vá la saber-se porquê... - e, de repente, é o justo que é lançado para as chamas mal cheirosas do inferno, enquanto o filho pródigo é transformado em anjo inocente, a assistir à cena da condenação do seu próprio irmão.
Devo confessar que eu próprio tentei anos mais tarde descer também aos infernos, na casa da sempre saudosa e querida Sra. Aninhas Prata. Mas, ou porque o buraco em que me tentei enfiar não era tão grande quanto parecia à primeira vista, ou porque só me deram acesso ao dos miúdos, tudo se ficou por um salto incipiente, mas ainda assim o bastante para me dar a esperança de também um dia eu ser capaz de assumir a condição de mafarrico, o que verdadeiramente só veio a acontecer nas vésperas da Festa do Senhor dos Passos. Mas isso já é outra história...
Tio Mário
Nos bons velhos tempos, quando não havia televisão e a cidade ficava nos confins do mundo, as noites de Inverno eram aproveitadas para encenar histórias que as gerações transmitiam por tradição oral.
Os assuntos normalmente versados, numa comunidade de crentes pouco instruída, eram a criação do mundo, o bem e o mal, o pecado e a expiação.
Destes temas, o que mais aliciava as plateias, pelo mistério e pelo limiar tecnológico, era o Inferno.
A visão do Inferno dramatizava-se por meio de um fosso criado por baixo do palco, de onde eram catapultados os diabos através de uma alavanca constituída por uma trave apoiada num tronco. O fogo, esse, era conseguido com resina moída, soprada através de um sistema altamente "sofisticado". O latoeiro fabricava um tubo que, na ponta, curvava para cima. No topo, acoplava‑se uma espécie de raro de regador que, coberto de resina, era colocado a centímetros de uma vela acesa. Na altura própria, alguém soprava no tubo, a resina libertava-se, atravessava o lume e transformava-se em chamas.
À medida em que o "Rei dos Diabos" chamava, os diabos emergiam no palco, envoltos em fogo. Não me recordo já do nome de todos. Como em muitas seriações bíblicas, sei que eram sete.
O "Rei dos Diabos" berrava: Lúcifer, Satanás, Sataniel e por aí fora… Cachapuz era o último e mais pequeno.
Quando os diabos saltavam, havia um diálogo que aliviava a tensão e fazia rir a assistência.
"Satanás!", bradava o "Rei dos diabos". "Aqui vou eu de cabeça para a frente e rabo para trás!", retorquia o dito Satanás.
Cachapuz !", chamava o "Rei dos diabos". "Fiquei para trás para apagar a luz!", respondia o último dos diabos.
A miudagem passava do pânico ao fascínio e, chegada a casa, queria imitar.
Dos cinco irmãos, reservámos para os três varões esta perigosa aventura escatológica.
O engenhocas era o Nando . Encarregou-se naturalmente de conceber os efeitos cénicos. Eu aceitei o papel de "Rei dos Diabos", pela importância e pouco trabalho. O Nando atribuiu-se também o papel de diabo saltante. O Marito , nos seus inocentes quatro ou cinco anos, constituía o público.
Faltava o local. Não foi difícil.
Numa espécie de sobreloja, existia a retrete. Reproduzia o que era comum nas famílias com algumas possibilidades: uma bancada de madeira, com um buraco e uma tampa, dando directamente sobre o quinteiro que ficava um ou dois metros abaixo. Os excrementos eram periodicamente misturados com mato para produzirem estrume.
Arranjámos e moemos a resina, improvisámos o tubo e o raro, acendemos a vela e preparámo-nos.
O Nando estava predestinado. Ainda pequeno, passava perfeitamente no buraco da retrete. Com o corpo e as pernas suspensos, tinha que apoiar os braços nos lados da bancada para se aguentar.
E o espectáculo começou.
Gritava eu:
Lucifer !".
E o Lucifer ", que o Nando personificava, soerguia-se, apoiado nos braços, e repetia Lucifer !", enquanto eu soprava resina para a vela e as chamas se levantavam terrificantes.
"Satanás!". A cena repetia-se…
Só não previmos que mesmo os diabos (e, sobretudo, os diabos) estão sujeitos às leis da natureza.
O Nando resistiu à primeira experiência, mas, na segunda, estava ainda o "Rei dos Diabos" a chamar pelo terceiro ou quarto diabo, quando os braços se negaram ao esforço.
Foi o desastre.
Com as pernas a balouçar e a roçar as profundas do "inferno", nem descia nem subia. E quanto mais tentava, mais descaia e tornava a situação irreversível.
Tementes das consequências e frustrados por não conseguirmos afinar a peça, chamámos o nosso pai para "desatascar" (é o termo) o actor.
Rezam as lendas que o Nando saiu da situação em mísero estado.
Foi desinfectado com uma mistura de cinza, lexívia e água quente, geralmente utilizada para as barrelas.
Depois, lavado com sabão cor de rosa.
Apesar disso, durante algum tempo, à sua aproximação, os iniciados no acontecimento cochichavam entre si, cúmplices de uma revelação que contrariava a sabedoria popular.
Afinal, o inferno não cheirava a enxofre mas a m...
"Espaço cénico" típico da época
Foto da responsabilidade do Guri Guri
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