Quarta-feira, 7 de Junho de 2006

Georges! anda ver meu país de Marinheiros

Georges! anda ver meu país de Marinheiros,
O meu país das Naus, de esquadras e de frotas!
 
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem a barra, entre ondas e gaivotas!
Que estranho é!
Fincam o remo na água, até que o remo torça,
A espera da maré,
Que não tarda hí, avista-se lá fora!
E quando a onda vem, fincando-o a toda a força,
Clamam todos à uma: "Agôra! agôra! agôra!"
E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo
(As vezes, sabe Deus, para não mais entrar...)
Que vista admirável! Que lindo! que lindo!
Içam a vela, quando já têm mar:
Dá-lhes o Vento, e todas à porfia,
Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas,
Rosário de velas, que o vento desfia,
A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas:
 
Snra. Nagonia!
 
Olha, acolá!
Que linda vai com seu erro de ortografia...
Quem me dera ir lá!
 
Senhora Da guarda!
 
(Ao leme vai o Mestre Zé da Loenor)
Parece uma gaivota: aponta-lhe a espingarda
O caçador!
Senhora d'ajuda!
Ora'pro nobis!
Caluda!
Sêmos probes!
S.hr dos ramos!
Istrella do mar!
Cá bamos!
 
Parecem Nossa Senhora, a andar.
 
Snra. da Luz!
 
Parece o Farol...
 
Maim de Jesus!
E tal qual ela, se lhe dá o Sol!
 
S.hr dos Passos!
Sinhora da Ora!
 
Aguias a voar, pelo mar dentro dos espaços
Parecem ermidas caiadas por fóra...
 
S.hr dos Navegantes!
Senhor de Matozinhos!
 
Os mestres ainda são os mesmos d'antes:
Lá vai o Bernardo da Silva do Mar,
A mail-os quatro filhinhos,
Vascos da Gama, que andam a ensaiar...
 
Senhora dos aflitos!
Martir São Sebastião!
Ouvi os nossos gritos!
Deus nos leve pela mão!
Bamos em paz!
 
Ó lanchas, Deus vos leve pela mão!
Ide em paz!
 
Ainda lá vejo o Zé da Clara, os Remelgados,
O Jéques, o Pardal, na Nam te perdes.
E das vagas, aos ritmos cadenciados,
As lanchas vão traçando, à flor das águas verdes
"As armas e os barões assinalados..."
 
Lá sai a derradeira!
Ainda agarra as que vão na dianteira...
Como ela corre! com que força o Vento a impele:
 
Bamos com Deus!
 
Lanchas, ide com Deus! ide e voltai com ele
Por esse mar de Cristo...
 
Adeus! adeus! adeus!
 
 
Lusitânia no Bairro Latino, António Nobre (1867-1905)
Paris (1891-1892)
 
 
A Praia das Pastoras e a barra do Douro (lado sul do paredão do farol)
 
 
 
 
O farol 
 
  
 
O mar e a Praia do Ourigo (lado norte do paredão do Farol)
 
 Foz do Douro - Cidade do Porto
Fotografias de João Manuel Tavares Martins
 
 
 
música: Chopin, Impromptu No. 4 in c sharp minor
busca por temas: ,
publicado por Guri Guri às 09:00
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5 comentários:
De Anónimo a 7 de Junho de 2006 às 12:54
Marito :
Não estou surpreendido com as tuas capacidades mas com a tua disponibilidade.
Este teu trabalho de cicerone pelo mundo da beleza e da arte não pode senão dar frutos. O poema que transcreveste diz-nos muito, particularmente a quem, como eu, viveu na Foz.
Tempos totalmente felizes?
Não.
Mas, por isso mesmo, é dos poucos lugares onde me apetece sempre regressar.
Diz-se que ninguém deve voltar a lugares onde foi feliz. Et pour cause...
As fotos, particularmente a terceira, são espantosas.
A Maria Lucília sempre me assegurou que, talvez um dia, me comprasse um pequeno apartamento na Foz.
É ela que gere os nossos destinos e sabe quanto adoro a Foz.
Começa a ser tard. Larguei as amarras para outros mares.
Em todo o caso, estas fotografias lembram-me a minha pertença a esse mundo, em que, não obstante os ventos e as marés, crescu e, quase por milagre, mantive o rumo.
O Nando dirá coisa parecida.
Continua e não te esqueças, já agora, de um poeta pouco conhecido e, definitivamente, um dos maiores: Cesário Verde.

congelado | discussão

De Tio Mário a 7 de Junho de 2006 às 16:24
Devo confessar que a par de critérios estéticos (sempre discutíveis), outros tem havido, na escolha dos poemas, em que só manda o coração.
Cantareira, os Pilotos da barra (ah, barcos dos meus sonhos), o Passeio Alegre, Rua Senhora da Luz, Avenida Brasil... Também para mim, quantas lembranças...

Segunda-feira, pela manhã. O meu barco tinha que zarpar. Mais uma vez se quebravam as amarras.
A família ficava. Eu ia.
E se me tivessem dito: fica! Eu tinha ficado.
Com dez anos apenas e já na rude faina do mar!.... 2ª feira pela manhã.


De Tio Mário a 8 de Junho de 2006 às 01:32
11 anos no mar e depois, muitos mais em terra, o mesmo miúdo , agora sem barco, sem redes e sem peixe. Dizem que anda por aí , velho e doente, a pregar "meditações transcendentais" que só ele entende e só os seus olhos vêem.


De Tio Mário a 8 de Junho de 2006 às 07:27
Cabeça a minha!...
Foram 9, e não 10 ,os anos que se foram.
Mar adentro, com 10 anos apenas!
Meus Deus, uma criança!
Não é coisa que se esqueça.


De Tio Fernando a 8 de Junho de 2006 às 00:41
O Zé tem razão. A Foz e em especial as zonas que as (óptimas) fotos relembram, continua a atrair-me. Não passo por esses lados sem que não venham à minha memória tantas recordações das vezes sem conta que percorri o paredão da barra do Douro desde a Cantareira (com com as lanchas dos Pilotos ali ancoradas e os grandes barcos a remos que transportavam a areia do cabedelo ) até ao farol. Nesta rotina do domingo de tarde não podia deixar de passar pelo Marégrafo , junto ao cais dos Pilotos, e parar na "meia laranja" a apreciar os pescadores que, de onde a onde, apanhavam uma tainha ou uma enguia. Porém, o passeio ganhava outro encanto se me apercebia que os Pilotos saiam com a lancha grande (P10 ) barra fora para "trazer" um navio para o porto do Rio Douro. Seguia atentamente todas as manobras e ficava encantado ao ver passar o navio a poucos metros da "meia laranja" tal o aperto da barra do Douro nesse local. Ainda hoje recordo com saudade e admiração alguns encalhamentos de navios nessa barra e o trabalho dos Bombeiros Portuenses lançando foguetes e cabos vai-vem (com boia-calção ) para retirarem os tripulantes desses navios. Já contei algumas destas histórias aos meus filhos. Deixo estas notas para que os nossos caganitos , se acharem piada, me lembrem para lhes contar a eles também. Não tenho grande desejo de morar na Foz, mas gosto muito de passar por lá. Obrigado, Mário, pelas boas recordações que nos fazes reviver. Parabéns, Tavares Martins, pela mestria das tuas fotos.
Tio Fernando

congelado

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