Para os primos mais novos “Kreidler”, certamente, não lhes diz muito, mas para os tios Fernando, Zé, Mário e até para as tias Zinha e Tátá, este nome lembrar-lhes-á a bicicleta motorizada que o Paizinho (avô Aníbal) comprou lá pelo início dos anos 50.
Nessa altura foi uma grande evolução nos meios de transporte da família, pois o único que existia era uma velha “pasteleira” (assim se chamava às bicicletas de pedal, mais pesadas, sem mudanças e com o guiador em forma de rabiça de arado). Diga-se de passagem, que o Paizinho, em solteiro, já tinha tido um cavalo e uma pequena moto que não chegamos a conhecer.
A velha bicicleta era usada pelo Paizinho para ir, uma ou duas vezes por semana, a Penafiel pagar aos fornecedores e trazer alguma mercadoria mais necessária para a loja.
Cada viagem representava cerca de
Como admiro, agora, a sua resistência física e a sua força de vontade ao relembrar a sua chegada de Penafiel, muito suado, a descansar um pouco, bebendo um refresco de água com umas gotas de aguardente adoçada com açúcar amarelo, ou comendo uma boa talhada de melancia!
Mas não era o Paizinho o único utilizador da bicicleta. Um pouco às escondidas, mas com consentimento tácito, os tios Fernando e Zé iam, primeiro, aprendendo e, depois, dando as suas voltas na dita. Eram frequentes as quedas que, normalmente, davam origem a avarias. Algumas vezes os “criminosos” conseguiam repará-las, outras eram motivo de grandes ralhadelas e consumições quando o Paizinho pegava na bicicleta para sair e ela não estava em condições: “porco sujo, estragaram-me outra vez a bicicleta”, era a expressão mais comum.
Mas voltemos à nossa história. Um dia, grande foi a nossa admiração e alegria ao ver chegar o Paizinho montado numa bicicleta motorizada, a Kreidler.
Era uma “máquina” de 50 cc, ainda com pedais para auxiliar nas subidas mais íngremes, com duas velocidades e era alemã…(nesse tempo os produtos alemães eram considerados sempre de melhor qualidade).
A partir daí as atenções da rapaziada da família voltaram-se para a Kreidler. Sempre que o Paizinho saía, lá estávamos nós de olhos bem atentos para ver como tudo funcionava. Lentamente a curiosidade foi dando lugar a algumas investidas, a começar por tirar a Kreidler do descanso e levá-la, à mão, até à estrada onde esperávamos a chegada do condutor. Uns tempos depois, uma vez na estrada, e como a dita tinha pedais, já o tio Fernando e o tio Zé davam uma pequena volta na estrada, em frente da loja, enquanto não chegava a hora da partida. Mas a tentação era muito grande de pôr a Kreidler a trabalhar. Até que um dia o tio Fernando combinou com o tio Zé: “Vamos dar a nossa volta do costume com os pedais e contigo a empurrar, também. Quando o Paizinho aparecer, tu dás um empurrão mais forte e eu solto o embraiagem…”.
Assim aconteceu numa bela manhã em que o Paizinho se preparava para sair para Penafiel. Quando ele chegou ao portão, íamos nós a passar na sua frente: então, o combinado empurrão mais forte actuou, a embraiagem foi solta e a Kreidler começou a trabalhar levando o tio Fernando, muito senhor do seu papel, a dar uma volta à igreja e voltar, parando em frente do Paizinho com a “máquina” a trabalhar. Recordo o cara do meu Pai, meio zangado, pela desobediência, e meio orgulhoso pela “habilidade” do filho. Desta vez nem ralhadela houve.
Porém esta ousadia teve um bom preço. A partir daí o tio Fernando passou a fazer “recados” com a Kreidler: Era ir buscar farinha a Casconha quando ela faltava na padaria, era ir a Cête pagar uma letra à Casa Facas, era ir dar um recado a um músico, à Capela, para que não faltasse na festa do domingo seguinte.
Não posso deixar de dizer que pagava todo este preço com grande prazer.
A Kreidler teve uma longa vida, recebeu um assento amovível para um segundo passageiro, onde as tias Zinha e Tátá andaram várias vezes.
Foi envelhecendo e acabou por ser destronada, já no fim da década, pelo aparecimento do novo meio de transporte da família, o automóvel Austin A70 (OS-13-97), comprado em segunda mão. Avariou sem conserto e ficou parada muito tempo, até que se aproveitaram as suas rodas para um carro de transporte manual de botijas de gás...
Que boa recordação eu tenho da Kreidler!
Tio Fernando
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