Terça-feira, 27 de Junho de 2006

A minha estreia na Kreidler

Para os primos mais novos “Kreidler”, certamente, não lhes diz muito, mas para os tios Fernando, Zé, Mário e até para as tias Zinha e Tátá, este nome lembrar-lhes-á a bicicleta motorizada que o Paizinho  (avô Aníbal)  comprou  lá  pelo início dos anos 50.

Nessa altura foi uma grande evolução nos meios de transporte da família, pois o único que existia era uma velha “pasteleira” (assim se chamava às bicicletas de pedal, mais pesadas, sem mudanças e com o guiador em forma de rabiça de arado). Diga-se de passagem, que o Paizinho, em solteiro, já tinha tido um cavalo e uma pequena moto que não chegamos a conhecer.

A velha bicicleta era usada pelo Paizinho para ir, uma ou duas vezes por semana, a Penafiel pagar aos fornecedores e trazer alguma mercadoria mais necessária para a loja.

Cada viagem representava cerca de 30 km e o Paizinho já ia a caminho dos sessenta anos!!

Como admiro, agora, a sua resistência física e a sua força de vontade ao relembrar a sua chegada de Penafiel, muito suado, a descansar um pouco, bebendo um refresco de água com umas gotas de aguardente adoçada com açúcar amarelo, ou comendo uma boa talhada de melancia!

Mas não era o Paizinho o único utilizador da bicicleta. Um pouco às escondidas, mas com consentimento tácito, os tios Fernando e Zé iam, primeiro, aprendendo e, depois, dando as suas voltas na dita. Eram frequentes as quedas que, normalmente, davam origem a avarias. Algumas vezes os “criminosos” conseguiam repará-las, outras eram motivo de grandes ralhadelas e consumições quando o Paizinho pegava na bicicleta para sair e ela não estava em condições: “porco sujo, estragaram-me outra vez a bicicleta”, era a expressão mais comum.

Mas voltemos à nossa história. Um dia, grande foi a nossa admiração e alegria ao ver chegar o Paizinho montado numa bicicleta motorizada, a Kreidler.

Era uma “máquina” de 50 cc, ainda com pedais para auxiliar nas subidas mais íngremes, com duas velocidades e era alemã…(nesse tempo os produtos alemães eram considerados sempre de melhor qualidade).

A partir daí as atenções da rapaziada da família voltaram-se para a Kreidler. Sempre que o Paizinho saía, lá estávamos nós de olhos bem atentos para ver como tudo funcionava. Lentamente a curiosidade foi dando lugar a algumas investidas, a começar por tirar a Kreidler do descanso e levá-la, à mão, até à estrada onde esperávamos a chegada do condutor. Uns tempos depois, uma vez na estrada, e como a dita tinha pedais, já o tio Fernando e o tio Zé davam uma pequena volta na estrada, em frente da loja, enquanto não chegava a hora da partida. Mas a tentação era muito grande de pôr a Kreidler a trabalhar. Até que um dia o tio Fernando combinou com o tio Zé: “Vamos dar a nossa volta do costume com os pedais e contigo a empurrar, também. Quando o Paizinho aparecer, tu dás um empurrão mais forte e eu solto o embraiagem…”.

Assim aconteceu numa bela manhã em que o Paizinho se preparava para sair para Penafiel. Quando ele chegou ao portão, íamos nós a passar na sua frente: então, o combinado empurrão mais forte actuou, a embraiagem foi solta e a Kreidler começou a trabalhar levando o tio Fernando, muito senhor do seu papel, a dar uma volta à igreja e voltar, parando em frente do Paizinho com a “máquina” a trabalhar. Recordo o cara do meu Pai, meio zangado, pela desobediência, e meio orgulhoso pela “habilidade” do filho. Desta vez nem ralhadela houve.

Porém esta ousadia teve um bom preço. A partir daí o tio Fernando passou a fazer “recados” com a Kreidler: Era ir buscar farinha a Casconha quando ela faltava na padaria, era ir a Cête pagar uma letra à Casa Facas, era ir dar um recado a um músico, à Capela, para que não faltasse na festa do domingo seguinte.

Não posso deixar de dizer que pagava todo este preço com grande prazer.

A Kreidler teve uma longa vida, recebeu um assento amovível para um segundo passageiro, onde as tias Zinha e Tátá andaram várias vezes.

Foi envelhecendo e acabou por ser destronada, já no fim da década, pelo aparecimento do novo meio de transporte da família, o automóvel Austin A70    (OS-13-97), comprado em segunda mão. Avariou sem conserto e ficou parada muito tempo, até que se aproveitaram as suas rodas para um carro de transporte manual de botijas de gás...

Que boa recordação eu tenho da Kreidler!                                 

 

Tio Fernando

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publicado por Primos Online às 00:39
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12 comentários:
De Anónimo a 27 de Junho de 2006 às 13:58
P.S.
Um acontecimento misterioso ficou ligado à Kreidler.
Num Natal, o Paizinho mandou-me a Fonte Arcada pedir, de empréstimo, 4 bacalhaus à loja do Senhor Pompeu.
Era já noite.
Atei os bacalhaus à grade da motorizada e, ao chagar a Villar, os ditos não resistiram a uma lomba da estrada e saltaram , caindo por uma ribanceira.
Só consegui recuperar um.
No dia seguinte, voltei ao local e... nada.
Até hoje.
Quando passo no local, mais de cinquenta anos passados, lembro-me sempre dos três bacalhaus que aí ficaram sepultados.
Elevo um pessamento à sua memória.
Consola-me pensar que poderão ter ido confortar a barriga de um pobre naquela consoada.
Mas para quem foii à pesca e regressou com apenas um dos três bichos, foi um dia para esquecer!
Tio Zé
r um.

congelado | discussão

De Tio Fernando a 27 de Junho de 2006 às 23:47
O Tio Zé deu umas pinceladas de mestre no quadro que, assim, ficou muito mais expressivo e rico em pormenores.
Não me lembro de alguma vez ter ouvido a história dos bacalhaus perddidos. Imagino a cena da chegada do Tio Zé à beira do Paizinho sem os ditos, mas se o Tio Zé quiser pode contar-nos.
Como estamos em tempo de "retoques" do quadro, acrescento mais um:
Era frequente que as nossas tropelias com a velhinha "pasteleira" fossem interrompidas pelo aparecimento do Padrinho(*) que nos dava uma valente ralhadela e tirava a coitada da bicicleta das nossas mãos.
Numa dessas investidas do Padrinho, o Tio Mário ficou tão "zangado" com ele que disse, depois do Padrinho se fastar:
"O Padrinho há-de rebentar na nossa terra!"
Frase ingénua e inofensiva mas que demonstrava bem o quanto isso tinha mexido com o Tio Mário.
Ficou de tal maneira célebre este desabafo que ainda hoje o recordo, com saudade daqueles tempos.

Tio Fernando

(*) Tio Abel, irmão do Avô Aníbal e que trabalhava na loja, de onde saía muitas vezes para ir buscar a mercadoria aos vários sítios onde ela estava guardada. Era padrinho de baptismo do Tio Fernando, mas todos nós o tratávamos por Padrinho


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