O “Menino do cesto” tem pedido por várias vezes para falar das Tias de Melres que marcaram realmente a sua vida como a de tantos outros que com elas tiveram a alegria de partilhar do seu dia a dia em ambiente cem por cento familiar.
Para aqueles que não as conheceram é necessário fazer um pouco de história.
As minhas tias (Alice, Virgínia e Lídia), eram conhecidas pelas “Meninas Ferreirinhas”, nome que surgiu pelo facto de seu pai ter nascido no lugar de Ferreirinha, freguesia da Foz do Sousa - Gondomar, e de lá ter vindo para Melres.
A sua casa ainda lá está, tal como era no tempo do meu avô. É bom ir às raízes e descobrir o que nelas se encontra, como em árvore de grande porte! É bom ir às raízes e penetrar na seiva que dá vida a esta árvore frondosa donde brotamos, como rebentos, em primaveras diversas. É salutar este mergulho, como quem vai ao fundo do mar em busca de tesouros escondidos.
Habitavam as três irmãs a Casa de Penacidra, no lugar da Boavista em Melres, onde nasceram e permaneceram, porque, sendo três, nenhuma delas se casou. Não porque fossem diferentes das outras raparigas do seu tempo, mas “há razões que a razão não conhece”…
A Tia Gina (Virgínia) sempre se dedicou ao ensino e, um dia, apaixonada pelo carisma do Pai Américo, deixa tudo e vai fazer-se mãe de tantos que ajudou a crescer. Ali era verdadeira mãe: se estavam doentes, ela velava a sua cabeceira; aos pequeninos acordava de noite para que não molhassem a cama; e aos menos estudiosos lá andava com os seus livros às voltas. Vinha muitas vezes a Melres e trazia com ela um sorriso que jamais esquecerei que escondia o segredo da verdadeira felicidade. Em Melres, ensinou muita gente, formou Grupos Corais, ajudou os pobres e por seu intermédio se construíram casas do Património dos Pobres nesta freguesia.
A Tia Alice muito cedo veio viver para o Porto, para casa dos padrinhos, Senhor Brito e D. Rosinha, na Travessa do Campo 24 de Agosto, n.º
A Tia Lídia foi sempre a mais ligada à casa mãe, a Casa de Penacidra, e mais virada para a administração das propriedades que pertenciam às três. A sua amizade pela irmã Alice foi sempre muito grande o que foi bem demonstrado pela maneira como a tratou durante os longos anos da sua doença, como se de um “bebé” se tratasse. Sempre dizia a Tia Lídia: “Ela sacrificou-se a tratar da madrinha, também há-de ter quem trate dela”. E assim aconteceu! E com que desvelo e dedicação o fez! Foi para nós um exemplo do que é a verdadeira amizade: “Aquele que ama é o que dá a vida pelos amigos”.
A Casa de Penacidra foi sempre um local de acolhimento. Ainda hoje, já lá vão tantos anos, muitas pessoas nos vêem dizer que se recordam de ter aprendido a costurar e a bordar em casa das “Ferreirinhas” e que lá também se iniciaram na arte da música. E, sempre que havia os célebres leilões em favor da Igreja de Melres ou qualquer outro evento mais significativo, as “Ferreirinhas” aí estavam presentes para animar, colaborar, liderar. É com orgulho que os seus sobrinhos dizem: “eu sou Ferreirinha”!
Naquela casa rezava-se, amava-se, brincava-se, mas o respeito pelos outros era ponto de honra.
Gostava muito de viver nesta casa porque a alegria era uma constante e as histórias de bruxas e de aparição de extra-terrestres não tinham lá guarida. Isto marcou a minha vida para sempre.
E agora que falei um pouco das minhas queridas três tias, vou falar-vos da ligação que havia entre Melres e Lagares.
A avó Idalina, antes de casar, morava numa casa que o Tio Fernando já referiu numa das suas crónicas. Ao lado morava a D. Rosa, professora em Melres, casada com o Senhor Cardoso, também ele lá professor, com dois filhos, o Senhor Cardoso (filho) e a D. Fernanda Cardoso, que vieram a ser igualmente professores, sendo esta última a madrinha do Tio Fernando, ainda viva.
O quintal da casa da D. Rosa fazia extrema com os campos da Casa de Penacidra, daí o ter-se criado uma passagem entre as duas propriedades pois a família Cardoso tinha grande amizade com as “Ferreirinhas”.
Assim se formou uma grande amizade, especialmente entre as jovens Idalina, Fernanda Cardoso, Lídia, Alice e Virgínia que várias fotografias demonstram a alegria dos seus folguedos.
Há até uma foto da Mamã (D. Idalina - Avó Idalina) coma a Tia Alice vestidas de noivos. Foi uma amizade muito bem cimentada, uma amizade da idade dos sonhos e do alvorecer dos amores que confidenciavam entre si. A Mamã casou e foi viver para Lagares, mas a amizade permaneceu como corrente forte que o tempo não desgasta. Há correspondência desde os primeiros tempos de separação que provam isso mesmo.
E, agora, começa a perceber-se o porquê das vindas a Melres pela serra com os filhos pequenos e a nossa estadia conjunta na Foz, na Travessa da Senhora da Luz, com as tias Ferreirinhas e a Mamã.
Nessa altura iam para a “praia” a Vóvó (bisavó Maria José), a Mamã, a Tia Lídia, Tia a Alice, o Nando (Tio Fernando), a Zinha (Tia Zinha), o Zeca (Tio Zé), a Guidita (eu própria) e o Zé Henrique (meu irmão -Tio Rique), os mais velhos.
Destes tempos, muitas histórias há que quem quiser poderá contar, a seguir. Pouco me lembro desse tempo a não ser do meu irmão a subir a íngreme calçada da Travessa da Senhora da Luz e vir ter com ele uma miúda que lhe deu um safanão. Quem conhece a calma e a bondade dele, certamente achará graça à sua resposta: “Quando fores à minha terra eu digo-te como é!” Claro que não me posso esquecer dos banhos de mar forçados, quando o banheiro nos tomava nos braços e esperava que a onda subisse para nos “enfiar” dentro dela…
E também lembro com muita nitidez a figura do meu avô, pai das minhas tias e do meu pai, que passava algum tempo connosco na Foz. Dele algo me ficou muito marcado quando me dizia que o “eléctrico” parava quando ele mandasse.
Vim a descobrir muito mais tarde que o “eléctrico” realmente parava na paragem…
Esta cena deu origem a um poema que escrevi e ficou no Cancioneiro Infanto-Juvenil da Língua Portuguesa editado pelo Instituto Piaget.
O tempo foi passando “como um ai que mal soa / como sombra que passa / como nuvem que voa” e os meninos cresceram e tiveram que ir estudar para o Porto.
Foi nessa altura que a casa da Tia Alice na Travessa do Campo 24 de Agosto, 77 se transformou num lar de estudantes por onde passaram muitos de nós “aturados” pela Tia Alice, Tia Lídia e uma empregada. Aqui as minhas tias eram mães a tempo inteiro dos que por lá foram passando e que elas a todos queriam do fundo do coração. Fizeram, sucessivamente, parte desta “quase república” o Tio Fernando, a Tia Zinha, o Tio Zé, o Henrique Maria, o Zé Henrique, eu própria, o Tio Mário, a Tininha, a Tia Natália (Tátá) e, depois, outros mais novos. Apesar de uns serem sobrinhos e outros serem filhos de uma amiga (a Lininha - Avó Idalina) em nada eram estes diferenciados. Falavam deles com grande orgulho tendo as suas fotografias em lugar de honra em cima da cómoda do seu quarto. Posso testemunhar o quanto elas a todos amavam.
Agora é a vossa vez de contar as muitas histórias deste tempo passado no “
Sem dúvida que esta convivência no “
Mesmo antes desta convivência no Campo 24 de Agosto, já, na altura das férias, o Tio Fernando, o Tio Zé, o Tio Mário e até o Padre José Barbosa, passavam alguns dias em Penacidra a convite das minhas tias. Eram tempos de sã camaradagem em que participavam também a gente mais jovem da família Lopes (Maria Helena, Zézinha e Arturinho) que viviam no Porto, mas que todos os anos vinham passar uns tempos de férias a Penacidra, pois uma grande amizade ligava esta família às Ferreirinhas.
Estes são apenas alguns exemplos do espírito alegre, jovem e de grande doação das Ferreirinhas…
Tia Guida
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